quarta-feira, 13 de julho de 2016

Desafios!


Oportunidades de autoconhecimento, de reescrever estatísticas e histórias, até de contrariar predisposições. Também é uma ocasião favorável a dar o passo atrás, a se acomodar, a confirmar maus prognósticos, a se conformar a um nível inferior, a se confortar com o que já tem, mesmo que não seja muito.
A figura do desafiante pode causar estarrecimento, despertar estranheza e medo; pode se tornar antipática pelo simples fato de desafiar o que já estabelecemos como limite intransponível, logo “quem é esse que vai desafiar o que eu não consigo”? O desafiante pode também abrir caminhos, mostrar o que é possível e não vislumbramos, pode inspirar superação e inovação, pode até levar a um seguimento.
No plano pessoal, desafio me faz ver como tem sido edificante o caminho que escolhi percorrer, como foi segura a base da estrutura que me traz até o ponto final proposto; também me faz vislumbrar como sou pequeno diante das possibilidades que se interpõem ao meu caminho. Numa breve viajem mental faço uma retomada na memória dos pequenos momentos de superação diária para num momento posterior começar a rever e reforçar a base com os tijolos que são as qualidades que me faltam.
Não creio mais em “mitos”, pessoas incomparáveis... penso sim que se corrigir o rumo da minha história pessoal ela poderá convergir com as histórias dos grandes de minha época ou do passado que me levarão a feitos pelo menos maiores dos que os que protagonizei.
Também não creio mais que seja possível se acumular de objetos, lembranças e pessoas para recriar, lá próximo degrau ou no topo se lá chegar, um ambiente que me seja agradável. Aprendo do momento, aproveito o agora com os objetos, lembranças acumuladas e pessoas do presente, sim; mas tudo isso me pesa para continuar subindo, então é preciso desapegar. No próximo degrau aprenderei de um novo momento, com pessoas provadas no mesmo fogo que forjou a escalada e então com novas lembranças que essas sim se acumularão às antigas lembranças que continuarei carregando.
Ontem me embasbacava com feitos e pessoas maravilhosas que me paralisavam num mundo etéreo de sonho; hoje sigo balizamentos já propostos e caminhos já abertos, até que possa fazer eu mesmo o impensável, pisar caminhos nunca pisados e atingir o até então inatingível, ao menos por mim. #upomega #youareyourbestchoice #trailrunes #trailrun #vempratrilha #saidosofá #saude #friendship #companheirismo #desafio #superacao #outdooradventurephotos #espiritosantowalk #ultratrail #ultratrailrunner #mantle #suuntorun #mountain #coaching #momentocoaching #mindset #motivação #foco #meta #boostyourtrail

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Foco x "Pilha"

Hoje em dia um termo é muito utilizado como referência em casos de conquista, projetos pessoais, motivação e outros, mas sua maior incidência é mesmo nos casos de auto-promoção! O uso de expressões que evocam o "foco" tem maqueado empolgação, passionalidade e desleixo!
Como "Gerente de Projetos Pessoais" esportivos e referentes à saúde e composição corporal, lido diariamente com gente que confunde foco com estar "pilhado"  ou muito empolgado, que assume planos baseados na emotividade ou nas necessidades de aceitação pessoal ou social.
Você poderá me questionar, mas não será necessário empolgação para cumprir um projeto arrojado? Claro que sim! Mas não apenas empolgação se o sujeito não for um "fora de série"! Ah, os fora de série... eles conquistam sem treinar; saem de casa com um plano, abandonam-no na primeira esquina e chegam ao sucesso; se motivam com críticas petulantes e esfregam na cara do crítico suas conquistas! Perdem 30 kilos em 30 dias e nunca mais recuperam... mas como já escrevi em algum lugar, não conheço pessoalmente nenhum "fora-de-série", conheço sim gente fantástica que faz coisas absurdas porque acorda cedo, porque estudou muito, porque manteve o rumo, porque esperou a porta abrir, porque não mudou a idéia principal! Eu chamo a isso Foco!
É atribuída a Steve Jobs uma frase: "Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para a coisa em que você irá se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas idéias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente". Steve Jobs concebeu para além de uma empresa, uma idéia; foi fiel a essa idéia, foi demitido da própria empresa e anos depois reconduzido.
Vemos empresas familiares tocadas por anos pelo patriarca, mas que chafurdam ao cair nas mãos dos filhos em pouco tempo, pois "mudaram o foco do negócio".
O que têm de comum os dois casos além de fidelidade à idéia principal? O tempo! Leva tempo para se comprovar uma tese, para fundamentar uma idéia; logo vejo que a qualidade "Foco" tem até aqui duas dimensões: Fidelidade (dizer não ao que não é essencial) e (ser fiel por muito) Tempo!
Isso posto, porque "pilha", empolgação, têm data de validade: tem gente que desiste após 1 mês, tem gente que abandona o projeto na primeira dificuldade; alguns condicionam sua motivação à preferências pessoais e se decepcionam, pois suas preferências os afastam do caminho do sucesso; Quantas promessas descumpridas, quantos planos abandonados;
Concluindo por hora, façamos o discernimento do que consideramos foco; que possamos delimitar a idéia principal, estabelecer cronogramas e submetê-los a um compromisso fiel! Vamos usar nossa empolgação nesse sentido. UP!

sábado, 27 de junho de 2015

Stress e Esporte - combinam?

Essa semana fui bombardeado por posts e relatos sobre “stress” e suas consequências desagradáveis nas rotinas de amigos e conhecidos. E eis que já pensava há algum tempo sobre o assunto.
Primeiramente, você sabe o que é Stress? Muita gente faz confusão. E parece que agora com a crise econômica as pressões individuais se multiplicam e está posto o quadro propício para a proliferação de diagnósticos de stress.


O dicionário Aurélio que nos diz que o estresse (em bom português) é "o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase" (equilíbrio).
Photo Credits: Erik Coser

Tenho dito e insistido que o “Equilíbrio” deva ser sempre o objeto da busca pessoal de cada um não importa o campo de atividade: Religião, trabalho, esporte, etc. Medos, compulsões, manias, falta de foco, problemas de identidade, contribuem para o desequilíbrio e o desequilíbrio é o retrato de que tem algo muito errado na individualidade.


Stress como opção


Eu defino o Stress como uma opção pessoal de permanecer incomodado e desequilibrado. Uma opção de valorizar aspectos pessoais imperfeitos que cada um passa a se identificar ao invés de se desafiar na busca do caminho de evolução. Está claro e aberto que toda forma de religião ou corrente filosófica busca a perfeição a partir da evolução das qualidades individuais, que você as tenha ou não. Ansiedade, egoísmo, avareza, exagero, ganância,  egocentrismo, vaidade não estão em quaisquer lista de qualidades a serem desenvolvidas. Quando negamos evitar essas características, negando o seu controle e assim nos especializando nelas, assumimos a opção por um caminho muito pedregoso.


Stress x sobrecarga


Muita gente confunde Stress com sobregarga; confunde stress com semana de provas, entrega de projeto, períodos cronológicos de intensidade física e mental. Esses períodos geram stress, não são o stress. Nessa confusão vamos nos submetendo e expondo cada vez mais aos fatores que geram o stress. Sobreviver a períodos de crise cria a falsa percepção de vitória sobre eles e cria uma supervalorização pessoal: nos gabamos de passarmos por momentos com cada vez mais sobrecarga, escondemos nossas insatisfações, maquiamos a situação sem contudo aprendermos as lições que conduzem à evolução.


Stress como reflexo de prepotência


A falsa imagem pessoal de “vencedor nas situações extremas” leva a subestimar o efeito que esses períodos geram em nosso comportamento, rotina e finalmente, em nossa fisiologia: o stress. Alterações de peso e composição corporal (sobrepeso, obesidade), frequência cardíaca e pressão arterial, diabetes e descompassos hormonais, síndrome metabólica, esteatose hepática, disfunção sexual, alergias, intolerâncias alimentares etc. Pensamos que estamos no comando mas estamos à mercê das nossas más opções. É preciso admitir a impotência diante do desequilíbrio.


Stress x Esporte


O próximo bert-seller relativo à saúde e esporte, o Livro do Dr. Dráuzio Varela “Correr” tem levantado interesse por uma suposta afirmação (eu não li o livro) de que a corrida é um poderoso “anti-depressivo”. Enquanto não tenho acesso ao contexto da afirmação, permito-me discordar efusivamente da afirmação. Sou praticante de esportes há 28 anos, Ciclismo me dá prazer, corrida não! Não dá pra generalizar os efeitos de substâncias estimulantes provenientes da atividade física. Dopamina, adrenalina, melatonina… não funcionam com todo mundo da mesma maneira. Os efeitos são momentâneos, restritos a pouco mais do que o “momento treino”. Se não há uma busca pelo equilíbrio, o momento passa. Passado o efeito bioquímico volta-se à realidade de dificuldade, incompreensão e desequilíbrio. O Esporte pode sim ser instrumento de superação dos momentos de crise, mas há de se ter uma disposição de buscar qualidades, e desenvolver as qualidades que irão mudar a predisposição ao stress. Afirmações como “o esporte tira o meu stress” servem para criar uma falsa compreensão pessoal do que a prática de atividade física pode proporcionar: por um lado cria condicionamento para postergar os efeitos da sobrecarga; mas por outro lado não modifica os eventos causadores nem a estrutura mental que sofre e aceita toda a pressão.
Outro evento é que algumas pessoas “sob pressão” e com stress instalado carregam para a atividade física todo o modelo inequalizado: ansiedade, medo, irritação, intolerância, vitimismo, necessidade de reconhecimento, comportamentos anti-sociais, etc, desequilibrando os novos ambientes e as pessoas que passam a conviver.
O esporte não é terapia! Professor de Esportes, Fisioterapeuta, Nutricionistas e outros profissionais envolvidos não são terapeutas; podem ter até alguma sensibilidade para isso, mas também seus objetivos profissionais que os direcionam para além de terapias. Vamos manter o esporte em sua vocação: condicionamento, saúde ou competição e convívio social saudável.
Quanto a você que está “stressado”, reveja toda a estrutura construída a seu redor e marque os pontos que você precisa evoluir ou abandonar; estabeleça condições ideais, eleja valores, determine metas pessoais de evolução sem esquecer de determinar os seus limites. E vá fazer atividade física, para quando você sair dessa seu organismo recuperar a máquina magnifica que você foi dotado e então estabelecer novos limites para transpor! UP!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Diante de um grande desafio

Quando você escolhe uma tarefa desafiadora, uma profissão incomum, um objetivo audacioso ou um desafio monumental, nem todos os caminhos estarão abertos. Digo isso num campo amplo que inclui recursos, know-how, nível de empenho, network, o caminho a percorrer e a atitude mental necessária. Você entrará numa senda onde poucos do seu convívio percorreram, estará a partir de então desbravando, assumindo o pioneirismo, você se torna também desafiador, incomum, audacioso e monumental. Imagine o que é para um catador de papel alcançar uma graduação; e há muitas situações em escalas similares, e alguns de nós podem se encontrar hoje nessa posição de precisar dar um próximo passo, que para você é inevitável (pela necessidade ou pelo ímpeto), mas que o consenso à sua volta considera um passo maior que as pernas.
Pensemos em alguém, grande, vencedor, campeão. Quais qualidades, caminhos, atitude mental essa pessoa lançou mão para suas vitórias? Coragem, capacidade de trabalho em equipe ou para receber orientação, um espírito indomável, uma vontade incomum, preparação, técnica, maior ou menor recurso financeiro, determinação, escolhas, renúncias e sobretudo equilíbrio entre essas qualidades que sem equalização nos deixariam malucos.
No que depender de nossas vontades vamos se preciso abrir os caminhos necessário sem fugir da luta! UP!

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Quantas histórias cabem numa trilha?


Quantas histórias cabem numa trilha?

Quando comecei no Trail Run, me brotaram na memória diversas experiências do passado, me reforçando a idéia de que a trilha é o meu lugar:

* caminhadas, patrulhas e exercícios de tiro, privado de sono, cansado de várias jornadas;

* instruções de sobrevivência na selva, preparo de alimentos e abrigos na mata, ambas na minha estadia no Exército;

* incursões na mata, com meu irmão estudante de Biologia, para reconhecer espécies de plantas.

A vida se agitou, e as opções me afastaram da mata, das trilhas: trabalho, conforto, shopping center, cinema, dvd, jogos eletrônicos, barzinhos...

O Trail Run é uma arte! A arte de percorrer regiões montanhosas, valorizando o ganho de altimetria, por estradas, em sua grande maioria sem pavimento, e trilhas, que são estradas dentros das matas, caminhos de tropeiros, rotas de fugas de escravos, picadas abertas por animais. Esses caminhos podem ligar grandes cidades antigas, pequenos vilarejos, podem dar até em lugar nenhum; o certo é que uma pequena  brecha na mata ou uma estrada vermelha que rasgue um morro ou serra até um topo de morro será um potencial parque de diversões para o corredor de montanha ou "trailrunner".

Isso numa perspectiva tropical. Na Europa e países subtropicais, os pontos geográficos de altitude são costurados por trilhas entre florestas de coníferas e terrenos pedregosos, com ou sem gelo! Refúgios de inverno (casas preparadas para abrigar viajantes e aventureiros nas estações frias) são milhares e colocados estrategicamente a aproximadamente 1 dia de viagem a pé. Lá se corre ou faz Trekking na primavera e verão e se esquia no outono-inverno. Onde há montanhas há homens, onde há homens há trilhas!

Correndo na Estrada Real, chegando em Ouro Preto, tive um insight: quantas histórias passaram por ali? Mercadores, escravos, nobres, soldados, brasileiros, portugueses, inconfidentes, condenados, o Imperador, e eu! Nossas histórias se cruzaram ali por causa de uma corrida, e ali também um capítulo da minha vida ficou registrado! Recentemente, abrindo uma trilha, comecei uma via de histórias a passar, dos animais, das plantas que se seleciona abater ou preservar, do suor, da seiva e do sangue derramados; do cansaço do trabalho árduo, da frustração diante da dificuldade da mata que resiste a se abrir apresenta, da alegria que impulsiona floresta adentro!

Minha história eu vou fazendo correndo e apreciando uma natureza que é dádiva generosa! Quem sabe a sua história não vai se cruzar com minha numa dessas estradas, dessas trilhas? Corrida, Montanha, Trilha, histórias, tudo é vida!  Up!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Por quê os meus (e talvez os seus) projetos não dão certo?

Há tantos anos envolvido com esportes e atividade física, nos processos de formação e preparação de atletas de competição e também nas questões de saúde, presenciei muitos casos de sucesso e outros nem tão bem sucedidos. Aqui vou discorrer sobre alguns fatores que contribuem para o insucesso de processos na formação de atletas, busca de resultados esportivos, na manutenção é promoção da saúde e nas mudanças de composição corporal, sejam o emagrecimento ou aumento de massa corporal.

Erro no propósito - angariar um título pela excelência do seu esforço e condição técnica, reduzir o peso corporal para potencializar o bom funcionamento do corpo, outrora perdido para o sedentarismo são exemplo de acerto entre treinamento e propósito. Os processos fluem corretamente pois há uma confluência dos fatores para uma meta ajustada. Acontece de haverem confusões nos propósitos: atletas ou indivíduos que buscam notoriedade pessoal através da vitória ou de mudança no aspecto corporal se perdem no narcisismo, nos primeiros elogios e geralmente se desviam da motivação do treino; atletas e equipes que se concentram em sobrepujar este ou aquele time ou atleta desfocam do universo do certame e tropeçam após alcançar um sucesso intermediário ou sucumbem pelo fato das tabelas não proporcionarem o confronto-foco.

Infra-estrutura - vou me ater ao aspecto da constituição física. Muitos projetos, principalmente de atletas tardios (aqueles que não passaram pelos processos de formação da infância e juventude nas escolinhas) e mudanças na composição corporal esbarram na falta de memória de condicionamento, coordenação motora e qualidades físicas, principalmente por não dispor de tempo para formação adequada ou por serem submetidos a prazos irreais de consecução.
* atletas e indivíduos que não possuem a memória de condicionamento (em relação a ex-atletas nas mesmas situações) padecem na descoberta das dificuldades inerentes ao treino como suportar a carga intra-treino e a fadiga pós-treino que carregará nas atividades quotidianas;
* algumas modalidades dependem muito de algum nível de coordenação motora (esportes, dança e modalidades de ginástica entre os mais comuns) e a simples incapacidade, mesmo que temporária, de executar as rotinas propostas, se de um lado atrasam consideravelmente aspectos como a queima calórica proposta, por outro caem como uma bomba na motivação do praticante;
* a baixa competência em qualidades físicas como força, resistência e alongamento por exemplo resultam em pequenas lesões (na melhor das hipóteses), mesmo em programas mais cuidadosos, que afastam os indivíduos das sessões de treino e assim dos resultados, prejudicando mais uma vez a motivação;
* o fato de ter que conviver com músculos queimando, hipóxia (sensação de falta de ar), hipertermia, suor excessivo e cãibras entre outros é para certos indivíduos o oposto do bem-estar procurado; não dá para ignorar o imediatismo de sensações que nossos alunos buscam quando eles não suportam essas condições de execução. Esse foi o maior fator de desistência que convivi nesses anos;
* enfim, prazos irreais de consecução de objetivos, mudanças de prazos baseados em ansiedade, e falta de franqueza (por parte do profissional envolvido) na constatação da necessidade de postergar prazos têm gerado muito ruído nesses processos que estamos discutindo. Há sempre uma pressa envolvida; tem que ser nessa temporada, nesse campeonato; quero perder 10kg em 1 mês; onde está a hipertrofia prometida? ansiedade, pressa, imediatismos apenas colaboram para desconforto no processo frustrações no processo e em alguns casos na busca de subterfúgios para adiantar o resultado.

Ansiedade - está presente em muitos aspectos desde o planejamento, passando pela execução e se manifestando mais propriamente quando cega diante dos pequenos sucessos, tão importantes na formação da motivação, pois leva ao contentamento relacionado ao objetivo final. A ansiedade dificulta todos os processos pois leva a ultrapassar limites de segurança e fases de evolução, atrapalha a convivência e superação das pequenas lesões.

Imaturidade - ansiedade (sempre ela), carências, insegurança, busca de aceitação, desmotivação, baixa auto-estima, manias, medo, egocentrismo, são obstáculos comuns e inerentes aos processos de treinamento na infância e adolescência. Quando se apresentam na idade adulta compõem o desagradável quadro de imaturidade, que passeia por vários níveis. É interessante para os treinadores saber a hora de indicar a condução do processo para profissionais da área de saúde competente.

Falta de perspectiva - buscar resultados irreais para a condição atual, prazos curtos demais, resultados baseados em condições de terceiros revelam uma falta de perspectiva que vai ser determinante no emperramento da relação atleta x treinador; processos de emagrecimento e treinamento de corredores têm sido os campeões nessa incorrência e influem na desmotivação em ambas as partes envolvidas.

Influências externas - conselhos, opiniões de gente que não está diretamente envolvida nos processos de treinamento seja qual o objetivo podem ser fatores de insucesso; vou exemplificar com 2 situações:
* pais de jovens atletas, entusiastas do esporte, atropelam o processo de treino com conselhos, direcionamentos e até com sessões de treino complementares. Adotam posturas de cobrança desvinculadas com o processo de evolução baseado nos princípios de treinamento desportivo, que sabidamente eles não dominam. Entre o "ego" do treinador na certeza do trabalho bem planejado e executado e o "direito" de intervir que o pai jura ter, está o jovem que acumula fracassos e decepções;
* emagrecimento, e geralmente no caso de mulheres ocorre a intervenção das amigas, com o famoso "você já está magra demais" ou dos parentes "você está com cara de doente". No primeiro, acontece de pessoas frustradas na incompetência no próprio emagrecimento deixam a inveja aflorar, sabotando as "amigas";

Visão de mundo - a visão de mundo vai determinar a ousadia do processo e a grandeza do resultado. Quem pensa pequeno vai ter dificuldade para grandes transformações; quem baseia suas convicções na busca de conforto e facilidade, ao se deparar com os desconfortos do treinamento se decepcionará; quem se baseia hermeticamente na auto-condução vai bloquear a contribuição de um profissional contratado para direcionar o treino. Insegurança emocional e medo sempre se mostrarão como bloqueio na transposição dos níveis de evolução. Segurança emocional baseada no elogio (ou falsos elogios) vai se tornar insegurança quando o indivíduo deixa de suplantar rendimentos já alcançados (você não vai conseguir um elogio sincero se não superar o que já conseguiu).

Expectativas muito altas - alimentadas pela ansiedade (de novo?) geram frustrações equivalentes - grandes expectativas, grandes decepções. Objetivos intermediários são fontes de pequenas vitórias que construirão a vitória final. O bom gerenciamento das expectativas vai construir o equilíbrio emocional e físico necessário para um(a) campeão(ã) na vida e no esporte.

Má utilização de recursos - eis um campo muito interessante: o dinheiro necessário para chegar lá, quanto custa uma vitória: desde aqueles que acreditam que só se alcança uma meta com muito dinheiro e patrocínios até gente que corre uma corrida de montanha de chinelos, já vi e ouvi muita coisa, ressalto esses:
* mais barato - gente que reclama do valor dos equipamentos, provas e assistência profissional mas gasta muito dinheiro em carros, bebida e comida; gente que não paga nutricionista pois é caro, pede desconto ao treinador, mas tem sempre um tênis novo e gasta uma nota na loja de suplementos; destaque para os que nivelam pelo menor valor: sites da china, auto-treino, equipamentos mais baratos ou em promoção, academia mais barata, informações de internet;
* mais caro - acham que seu dinheiro compra resultado: equipamentos mais caros, academia badalada, treinador da moda ou blogueiro, competições no interior... mas não tem frequência aos treinos nem aquela garra necessária para superar os desafios;
* sem recursos - fico muito satisfeito quando contemplo pessoas que têm pouco recurso para o treino e os componentes acessórios, mas conseguem belíssimos resultados consolidados pelo tempo, sem o glamour dos personal trainners, nas academias de bairro, nos serviços púbicos de orientação ao exercício e formação de atletas, simplesmente levando a sério e gastando com racionalidade.

"Do it yourself" - uma tendência moderna num mundo que não precisa de mestres, o faça-você-mesmo tem se disseminado, potencializado pela internet. Ignora os pressupostos científicos desenvolvidos por séculos que fundamentam o Treinamento, a Nutrição, a Medicina, a Fisioterapia envolvidos nos processos de treinamento. Não é necessário se alongar em muitas palavras sobre a eficiência dos processos orientados de evolução. Nem um "fora-de-série" conseguiria se destacar sem o suporte profissional: quem seriam Michael Jordan, Michael Phelps, Messi se treinassem baseados em vídeos do youtube?

Hora certa - "O tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece dúvidas, mas, acima de tudo, o tempo traz verdades."  Muitas vezes nos cobramos pelos nossos insucessos, muito frequentemente por não percebermos que ainda não chegou a hora certa. Quanto tempo se desenvolve a maturidade, quantas horas de prática levam à excelência numa habilidade, quantas derrotas prenunciam uma vitória. Vejo muita gente vencendo na vida e na atividade física, não conheço pessoalmente nenhum fenômeno, nenhum fora-de-série; os vencedores da vida real são pessoas que treinam antes ou depois do trabalho, que se entregam ao treino, que aprenderam a conviver com o desconforto, que dividem o tempo entre a família, seus objetivos pessoais e eventualmente com a vida social; gente que ama o que faz; gente que dorme muito pouco; gente que aprendeu a comer com moderação; gente que saiu da zona de conforto, gente que não tem tempo pra se desviar do foco. Os vitoriosos que eu conheço convivem diariamente com suas perdas e derrotas mas valorizam no fim do dia um pequena vitória que os impulsionará a pular da cama atrás da próxima vitória.

Se eu fosse você ia treinar!

sábado, 28 de março de 2015

Omega Day

"Amanheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar..." Renato Teixeira

Muitas e muitas manhãs de domingo passei em casa, assistindo prohramas que falavam do campo, do interior, da natureza! Os causos, as reportagens sobre agricultura e pecuária,  preservação ambiental, as músicas dos sertanejos...
Construí um conceito de conhecimento sobre as coisas do interior, como o conhecimento da escola, da faculdade: teórico e incompleto.
Foi pedalando  e correndo pelo interior, passando ao largo das propriedades, comendo e respirando poeira, ora pedindo água, ora comendo frutas nas beiras de cercas, frequentando as vendas, que verdadeiramente passei a conhecer, a partir da minha própria experiência,  as coisas do interior! A ciência do matuto, a engenhosidade sem engenharia, a cura sem medicina, o diálogo aberto num simples "dia" ou "oô"; até  a academia da foice, do facão e da enxada. A religiosidade e a fé puras de quem sempre acredita: a chuva vai chegar,  se Deus quiser!
A terra, o chão,  o rio, os bichos, o homem e a mulher do campo, o cheiro e o colorido das matas são pura vida!
Por hoje vivamos essa vida no
Omega Day!

Sobre Felicidade, sucesso e frustrações.

Tenho pensado (e convivido) em gente que alimenta a frustração, são muitas expectativas... muitas vezes atiçadas por motivações exteriores, de terceiros. 
Muita gente olha para as atitudes de terceiros e as implementa em suas vidas mas não conhece a história  (ou estória, muitas vezes fantasiada e até mentirosa) daqueles "motivadores". A partir daí constroem planos e prazos desvinculados das suas capacidades individuais presentes. Por vezes traçam planos individuais ambiciosos que não podem ser contrariados gerando conflitos sociais com as pessoas próximas!

Aos primeiros tropeços iniciam a ladainha de reclamações e as primeiras desistências! Pensamentos negativos, necessidade de pena, carência de atenção? Alguns seguem sofrendo e reclamando; outros criam um personagem heróico por trás de outros criam um personagem heróico por trás de  uma fantasia (muitas vezes ancorada nas eedes sociais ): pode ser no âmbito familiar, profissional ou no lazer; aqui sua atividade na academia ou nos esportes vira essa supra-identidade! Viram blogueiros e celebridades e se reproduzem em novos "ícones" (ou candidatos) no watsapp, telefone ou conversas informais.
A questão é: no meu processo de transformação meu parâmetro será  real (a partir da minha realidade pessoal) ou fantasiado (vinculado ao processo de outro alguém, suas motivações resultados)?
Há 2 tipos de frustração que são muito comuns:

1) a relacionada à suas incapacidades: meu tênis não serve, não tenho tal equipamento,  não consigo correr, sou pesado demais para isso (ou velho demais), não tenho dinheiro..., só poucos quilômetros... e isso vai se tornando uma tortura pessoal e não contente em sofrer desnecessariamente, compartilha aos 4 ventos suas "misérias";

2) a frustração em relação aos outros: ora, se toda a expectativa pessoal está baseada no parâmetros de outras pessoas, o indivíduo passa a se comparar com qualquer um por perto. Às vezes escondem essa frustração alegando serem competitivas! Elas revelam essa frustração no desejar o tenis igual ao outro, a marca de roupa, o acessório, querem correr no ritmo do outro e percorrer sua mesma distância; a cereja do bolo: quanto deu sua corrida, qual o seu tempo?

Claro que uma ou outra dessas questões acontecem com qualquer um, mas quando acumulamos muitas é um sinal de alerta!
Onde isso pode parar? Num infinito a partir de procura de substâncias que aumentem  o rendimento, endividamento monetário, danos ao corpo  (por não poder perder um treino ou corrida em nenhuma hipótese)... 
Que nós possamos nos propor caminhos próprios, mesmo que orientados, que conduzam ao equilibrio físico - mental e com um pouquinho de rendimento que nos permita contemplar sempre novos horizontes! Up!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

APTR Pedra Azul 2014 - Um dia para ser lembrado!

15 de Novembro de 2014

Retornando às "Highlands" capixabas, "a prova do ano", fechando o Circuito APTR; cheguei com uma consternada vontade de completar a prova; em 2013 curti o  percurso, minha primeira corrida de 21km, terminei em 14º com uma agradável sensação de quero mais. Desenhei minha temporada com desfecho em Pedra Azul. Porém aquele ditado: na teoria a prática é outra, cabe bem para definir minha temporada de treinos e competições.

No segundo semestre enfrentei seguidas pequenas lesões nos pés, lesões adaptativas que não me impediam de treinar, mas não me possibilitavam acelerar. Isso somado à sofrida experiência em Ouro Preto ( http://duk7team.blogspot.com.br/2014/11/nem-todo-dia-e-um-bom-dia-aptr-ouro.html ) foi determinante para não treinar o quanto devia e para me resignar a  completar a prova sem o objetivo competitivo. Já estava muito satisfeito em trazer uma equipe com 9 corredores!

O clima da prova é sensacional! O reencontro com os amigos feitos durante o ano, os preparativos para a corrida, o encontro com os os organizadores, os staffs feito formigas operárias, em todo lugar sem parar de trabalhar, o Congresso Técnico, a incerteza do clima. Já na linha de largada, a névoa não se dissipava, mas algumas certezas se clareavam: o clima não vai esquentar (provavelmente pois aqui a cada meia hora de haver uma surpresa climática), a pista estará bem molhada, vai ser uma prova nivelada por cima, não vai haver tanto desgaste (o que é uma meia-verdade em se tratando de endurance). A única preocupação 1 minuto antes de largar: se possível passar na 1ª trilha o mais cedo possível. Pontualmente largamos!

Larguei da segunda fila, pra ver de perto o estouro da boiada. Um breve declive na grama molhada seguido de uma rampa, ainda desconfiado da minha condição, resolvi acelerar e colar na cabeça da corrida; minhas pernas responderam prontamente. Ganhamos a Rota do Lagarto numa galopada que nem os cavalos Fjörds se atreveriam, pace 4:30 e pensei... vai ferver! Viramos na primeira rua à direita que é a Rota do Morango, uma descida severa de bloquetes, segue o cortejo, vejo que estamos entre os 20 primeiros, olho para os lados vejo um Flashback de 2013, ladeado por Rafael Negão e Raphael; pertinho ainda o Hildemar e o Léo. Toca descida. Dá para ver os primeiros, vamos seguindo e ainda ultrapassando. Deixamos o pavimento e ganhamos a primeira subida: uma estrada de beira um cafezal. Piso firme testando as pernas e ganho o chão; realmente o chão está liso e aproveito para calibrar a força. Adoto ritmo confortável na subida, vamos para cima. A fresca da mata e a garoa não disfarçam a sensação de que estou em ritmo forte: da cintura para cima ferve o corpo! O primeiro cume é o "Mirante", entramos numa trilha íngreme no meio da mata em "single track" onde 4 atletas caminham na minha frente. O terreno escorregadio e o sentido de preservação me permitem caminhar morro acima, penso comigo: já subi aqui correndo! Não me abato, logo um motor ferve à frente, um a menos; avisto o fim da trilha, um instinto selvagem fala mais alto, dou 6 passos correndo fora da trilha e já passei mais 2, volto à trilha, acelero, Mirante: check! Antes da descida, uma chicana num mata-burro vertical e toca descida num eucaliptal. Aqueles que outrora bufavam na subida ganham um ânimo morro abaixo comparável àquela hombridade interiorana... nos veremos em breve, já avisto a "Antena" que é acessada por uma estrada em mais um eucaliptal, uma constante no percurso. Primeiro posto de abastecimento: um copo de coca-cola e 1 quadradinho de chocolate. faltam 10 min para meu primeiro lanche, que poderei adiar por mais 10 min. A matemática que eu me esquivava na idade escolar é útil amiga em todo o percurso, onde o abastecimento correto minimiza os efeitos da fadiga que certamente vai chegar. Subida do Eucaliptal, revejo alguns valentes das descidas pela última vez, toca subida, cumprimento o Fotógrafo Danylo Goto e acelero nos último 50m sinto-me bem: nessa próxima descida ninguém me pega! Galopo morro abaixo, procuro o monolito que dá nome à localidade, as nuvens insistem em cobrí-lo. Retorno à Rota do Morango, vejo ao Longe Raphael, mais perto Rafa seguido pela Diana Bellon que liderava os 25 feminino, logo atrás Hildemar. Vamos para uma parte decisiva da prova.

À meia distância, vê-se à esquerda uma cascata na pedra, um bosque de pinheiros e o prédio da Pousada Pedra Azul que encima uma grande pedra. Olhando mais atentamente um vulto rasga a pedra longitudinalmente, é uma escadaria que se extende por mais de 100 degraus. O complexo bosque-escadaria rompe um desnível de mais de 30m. O bosque, com o chão forrado das cerdas que servem de folhas para as coníferas que ali residem exige pela inclinação somada ao chão fofo. Uma agradável sensação de peso nas pernas  que não pode ser tão aproveitada pela concentração em não deixar o coração cair da ponta da língua. Esse é o cenário fisiológico quando se levanta a cabeça e se depara com as escadas extensas. Sigo correndo. Olho para trás e os demais parecem parar; ultrapasso dois na escada, não os tornarei a ver até o fim da corrida. Mas não é tudo. Um breve alívio no interior da pousada, um gole d'àgua, e em seguida uma imensa laje de pedra que escorre a chuva da madrugada e manhã. A organização caprichosamente dispôs pedaços de carpete que perfaziam uma trilha, mas o vento impiedoso carregava os carpetes molhados. Tomei o canto da via, entre a turfa de folhas e os musgos e avancei. À frente frente um grupo que já a cada momento ficava na alça da mira para o trecho da trilha. A atenção ao lado direito da mata onde adentraria numa belíssima trilha na propriedade da Pousada, vejo duas fitas amarelas chamando em um portal dimensional para meu ambiente preferido: a mata! Ouço vozes à esquerda, e num lapso oniciente de que havia ali um atleta meu, alerto que estão perdidos com um grito e conclamo a retornar ao caminho. Numa corrida de Trail não há resolução rápida do caminho; o cansaço é traiçoeiro, a companhia é traiçoeira; o "esperto" às vezes acha no primeiro buraco na vegetação um atalho, ,o "inseguro" olha para o chão em busca de segurança, não é uma questão de pernas, de condicionamento, precisa acontecer uma simbiose que muitas vezes foi rompida pelo carro, pelo ar-condicionado, pelo condomínio; o instinto natural ofuscado afasta o caminheiro do caminho. o grupo me alcança, encerramos a trilha dos musgos, líquenes, pedras, grutas e raízes, nos despedimos dos atletas dos 12km que convergem à direita onde viramos à esquerda ganhando novamente a Rota do Lagarto. Já contemplo sofrimento e alguns que seguem enfrentando bravamente a subida do Fjördland. Descemos em direção Sul, passando pela Pousada Tre-Fiori que encara a Pedra do Lagarto encoberta pelas insistentes nuvens frias. Valentes despencam via abaixo, nos veremos já!

Deixamos a Rota para mais um trecho de subida que tem seu início sinalizado pelo incansável Manuel Lago, Diretor Técnico da prova; já é a terceira vez que nos cruzamos, acho que quanto mais cansado, mais sorridente ele fica! A partir daí é um festival dos horrores, olho para frente, cãibras e motores fervendo, atrás idem. vou seguindo. Penso que o Pasto do km18 irá me cobrar o preço e sigo em frente enquanto estou forte. Descemos um eucaliptal, subimos uma plantação de inhame, um topo de Pinus derrubados e uma longa subida num pasto, penso que logo retornaremos a um longo trecho de mata e trilhas e me animo numa descida. Me ajunto a Diana, um grupeto à frente, outro atrás.  Aos da frente desejo encontrar no km 19, acho que vou ultrapassá-los ali ou ao menos encostar para decidir posições nos últimos 2km. Trilha adentro, uma voz interior alerta: "não perca as fitas amarelas". Lembro que no ano anterior havia um bosque sem trilha, apenas as fitas ao longe. Ouço vozes fora da trilha, imagino que haverá uma forte conversão à esquerda pois são os que perseguíamos; eu estava enganado e eles também. Ao chegar numa transposição do curso de água, pergunto sobre os da frente, não haviam passado. Alerto os staffs que faltam alguns e continuamos até o último posto de abastecimento. coca-cola, chocolate e perna na estrada. Até aqui foi curtição. me explico: um staff dá a panorâmica da colocação, 15 min atrás do líder, 6 min atrás de um grupo estamos aproximadamente em 7º. Isso é o suficiente para transformar uma bela manhã numa planilha de cálculos. Pé na estrada! 6 minutos é praticamente 1 km, que não conseguimos avistar. Seguimos correndo e eu monitoro a retaguarda e nada de perseguidores. Diana está com o 1º  geral garantido e eu tenho um pódio na categoria de idade. Daqui pra frente todo mundo satisfeito, uma questão de administração. Deixamos a Rota do Lagarto e entramos num parto encharcado, ao transpor o charco um aviso das cãibras: estamos querendo te pegar. Caminho. Olho pra trás, ninguém. seguimos subindo e caminhando forte. Andar na frente carrega o bônus de definir o seu ritmo e o dos que vem atrás.  Arrumo um galho de eucalipto, que será meu bastão de caminhada. Após mais de 1km olho para trás e vejo alguém deixando o asfalto. se quiser nos pegar vai morrer. seguimos caminhando e finda a subida chamo a campeã para retomar a corrida. Antes de retornar ao pavimento, um obstáculo crítico: uma porteira fechada à qual é preciso se esgueirar entre as traves e em 2013 me consumiu em cãibras. Passei batido. Sobe um pouquinho, desce um pouquinho, falta 1 km. Uma súbita alegria, os flashbacks de 2013, a lembrança mais uma vez dos momentos de treinos, das renúncias, da família e dos amigos privados do convívio nas manhãs de sábado e domingo. Valeu a pena! Aceleramos para a chegada. É mais que justo que a campeã cruze o portal triunfante; vinhamos de mãos dadas em comemoração antecipada, lhe dou um tapinha nas costas, aquele "vai que é tua!"

Sinto-me em êxtase, é ímpar superar-se! Adevan Pereira nos aguarda e nos dá um abraço! Um gesto fraterno no calor da competição! Amigos, alunos a me saudar. Sou informado da 6ª colocação, a um degrau apenas do pódio geral. Demais penso eu! Congratulo-me com Rafael, o 4º! Em 2013 percorremos juntos, e fomos 12º e 14º. Viemos, vimos e vencemos!

Mais vivências, mais lições; aprendidas e à ensinar. O que dizer agora a quem critica a rigidez dos treinos, a retidão dos propósitos, a abstinência àquela noção de prazer à custa do exagero, deixou de comer, deixou de beber, deixou de sair? Nada a dizer. Tenho a dizer àqueles que vão me procurar procurando sair da estagnação, do sobrepeso, da hipertensão, do diabetes. O que dizer a quem não vê meus 27 anos de treinamento, não sente as minhas dores, não se permite trocar sessões de treino por sessões de fisioterapia e descanso, e quer em 6 meses de treinos comer o mundo correndo a qualquer custo, para estar entre as atenções? Nada a dizer. O direi àqueles que se atreverem a alcançar o auto-conhecimento e o auto-controle por meio do corpo e do movimento, sonhando em feitos transcritos por resultados ou apenas pela superação de suas dificuldades. O que posso dizer agora? "Eu percorro o caminho, me alimento do que o caminho me proporciona, repouso quando o caminho permite; vislumbro o alto, sonho com as coisas do alto. Eu deixo atrás de mim um rastro, uma história que se não servir de exemplo, poderá servir como ponto a superar, rumo ao alto! Up!

Se quiser conferir o relato de 2013: http://duk7team.blogspot.com.br/2013/11/k21-pedra-azul-uma-experiencia-unica.html

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nem todo dia é um bom dia - APTR Ouro Preto

Este texto estava guardado na cabeça pela escassez do tempo...

Ouro Preto, 01 de Novembro de 2014

Hoje aconteceu a APTR Ouro Preto, Evento de Trail Run do Professor Adevan Pereira  (AP); Levamos nossa maior equipe do ano, cinco componentes: Camilla (7k), Gunter (12k), Raphael (12k), Joyce (25k) e Emílio (25k).

O ambiente: Ouro Preto é uma bela cidade histórica, e se sente que por um lapso de tempo estaríamos vivendo páginas dos livros de História. É cercada por cadeias de morros, e a mais imponente faz parte do Parque Estadual do Itacolomi. A Corrida tem o Parque como ponto de partida e de chegada.

Hora da largada, 10h, temperatura ainda baixa, e uma escolha errada: largar com o conforto de uma blusa segunda pele. Decidi largar num ritmo conservador, sem forçar, aguardando o completo aquecimento e o "steady state" para então estabelecer o ritmo da prova. No primeiro quilômetro, tento não forçar, sendo ultrapassado a todo momento, mesmo assim o pace de 4:45 numa subida gradual diz que a prova vai ferver, no segundo quilômetro estou entre os 30 primeiros. O visual se desenha maravilhoso, deixamos o Parque e uma bela formação sedimentar se põe ao lado do caminho. O conforto não chega, pelo contrário, pareço cozinhar dentro da blusa pelo esforço e pelo mormaço. Defino nesse momento que no primeiro posto de abastecimento retirarei a blusa de baixo. Uma curva para a esquerda e damos de cara com o vento, que refresca e alivia o calor; o terreno não impõe dificuldades, mas o conforto não vem, sigo sendo ultrapassado. Chegamos à uma vila pitoresca de vias calçadas de pedras: Lavras Novas. Alguns descuidados se intertem com a cidade e perdem a marcação vistosa de fitas zebradas em amarelo e preto. Desde a entrada da vila venho acompanhado de um belorizontino, que havia estudado em Ouro Preto e viemos trocando idéia até o posto de abastecimento. Tempo nublado, vento frio. Tomo 2 copos de coca-cola, decido manter a blusa: persisto no erro; retomo a corrida.
Após 1 km o sol abre, o vento pára. Estou fritando! Ligo o "modo mental" e sigo em frente. Já são 12km, mas sei que ainda tem toda a subida da volta. A busca pelo conforto fica de lado diante da constatação que estou fisiologicamente em sofrimento, as pernas pesadas, a frequência cardíaca mais alta que o normal. O "modo mental" me traz lembranças de outras corridas, dias bons... estamos numa descida, quatro corredores 20 metros à frente. Sinto a força nas pernas, abro as passadas e despenco caminho abaixo; em um minuto já passei e abri distância dos companheiros. km 14! Foi um brilhante quilômetro! Mas na próxima subida reduzo o passo e as pernas queimam, a FC sobe e estou novamente a sofrer; nos aproximamos da Represa do Cardoso, uma rampa de pedra e inevitavelmente o contexto me leva a uma condição nova nesses 2 anos de Trailrun: caminhar. Volto ao trote, mas na próxima subida a coragem deixa as pernas e volto a caminhar. O sofrimento dá lugar a uma falta acentuada na disposição para correr. Paro para respirar, estou ofegante, parece que corri 100m em 13s como nos tempos da faculdade. Finalmente tiro a blusa de baixo, como e bebo; o corpo quer parar, mas a cabeça não vê opção que não seja completar. Volto a correr, a parada não ajudou o ânimo, mas , me dou conta que a vontade mental, que muitos podem chamam determinação, não me abandonou,  pelo contrário, me empurra caminho adiante. Estou na Estrada Real, penso na dimensão histórica que estou vivendo, e vou seguindo, sofrendo, me distraindo, me motivando...
No km 18, posto de abastecimento, parada mais para descansar que para abastecer. chupo uma laranja, algum chocolate, bebo água, coca-cola, me refresco com a água gelada. Volto ao caminho,
o caminho é quem faz a caminhada, a luta, e não quem luta. Corro, caminho, agora com muita dificuldade; para o ritmo não importa andar ou o trote cambaleante que imprimo, mas correr faz bem ao meu ego... mais um posto de hidratação, tento comer uma banana, que não desce. Num trecho plano tenho uma dificuldade imensa para me manter corrrendo. Já escuto a sonorização do evento, mas não me engano, faltam mais de 4km e chega a hora das trilhas. Entro na primeira, meu habitat preferido, o sangue esquenta, a trilha pede para correr; me aventuro e acelero, mas um trupicão me traz um novo desconforto, uma forte cãibra na panturrilha esquerda. Demora a passar, começo a caminhar, o som desaparece, estou me afastando do ponto final...  passo pela capela e a próxima trilha leva para o lado oposto da meta; ando mais que corro. Um tronco à meia altura... transponho por baixo, quase sentado e agora as cãibras nos adutores se somam à da panturrilha. Já passam de 3 horas de prova, vou seguindo adiante; saio da trilha e encontro um Staff que me indica finalmente a direção da chegada. Volto a correr, estou na estrada; passo pelo Adevan Pereira que indica ainda uma última trilha, mesmo que a chegada já esteja à vista do lado esquerdo. A trilha do Forno começa com uma escada. 4 degraus que determinam que minhas duas pernas seriam dominadas pelas cãibras a partir dali. Já estou no automático, já não olho em volta, me concentro em sair daquela mata, avistar a chegada, e tropegamente trotar até o objetivo, sem sprint, sem preocupação com o cronômetro, só quero chegar. meus amigos e alunos me aguardam, é um reencontro confortante! Não teve emoção qualquer. Nos próximos minutos fico meio aéreo, não é uma sensação agradável. Tomar um banho limpou o corpo mas não trouxe renovo no ânimo. Depois de momentos de completo desligamento sento-me debaixo de uma Aroeira e então sim, me emociono com os corredores que ainda lutam para fechar suas provas, contemplo seu sofrimento e me lembro do meu. Um estranho sentimento de vitória lá no fundo, vindo de uma capacidade de superação, que eu imaginava ter, mas que não o havia experimentado. Uma nova conquista, uma nova descoberta; um dia ruim, não para ser esquecido, mas um dia ruim!
Apesar do treino, do comprometimento, das escolhas e das renúncias, o atleta não é uma máquina e nossas reações não são totalmente previsíveis. O treino, exigente, vai fazer brotar as qualidades que nos farão superar o inesperado sempre que se interpor aos nossos caminhos. Up Omega!

sábado, 23 de agosto de 2014

APTR Ilha Grande



APTR Ilha Grande

Pensa num lugar longe... lindo, selvagem, bucólico, multiracial e multinacional. Ilha Grande!
Hoje participei da APTR Ilha Grande, 21km nesse paraíso de praias, subidas, mata exuberante, trilhas cabulosas. Podemos considerar a Alcatraz nacional, porque abrigou uma unidade prisional famosa, não tão inespugnável quanto à americana.
Mas vamos à prova; largada forte, 2km em 10min numa corrida de montanha. No terceiro kilômetro começamos a subir e já estavamos um primeiro pelotão destacado para uns 4km de subida dura. Destaque para o nível dos competidores, pois nesse grupo não vi ninguém andando nesse trecho. Éramos 10 da turma dos 12km mais uns 20 dos 21. Uma breve parada para uma coca-cola no km 5.5, uma selfie num belo spot e toca subida. 
Nesse trecho compartilhávamos a estrada com diversos turistas, na sua maioria estrangeiros e entre expressões de ânimo como “allez”, “go, go” e “very well”, toca subida. Sob revoadas de maracanã (eu acho) descemos até o Presídio, uma passada numa bela e deserta praia (a areia desanimou alguns desavisados nos seus cerca de 500m de extensão), mais uma parada para hidratar e refrescar-se com água gelada, toca subida. E aí, sob um so de mais de meio dia o povo começou a sofrer. Uma turma que havia me passado no longo trecho de descida e já no trecho da praia estava com uma vantagem de 300m foi ficando mais perto. Tentei fazer todo o percurso numa tocada confortável e constante, e naquele “passinho” fui já me recolocando e enquanto finalmente esse grupo começava suas caminhadas e trekings fortes, fui colocando vantagem. Toca subida. 
Nesse trecho numa amistosa briga, mais com o caminho que pessoal, alternava posições com um guerreiro que posteriormente descobriria ser o terceiro da nossa categoria. Comecei a descida na frente e 1km após preferi não parar no posto de abastecimento onde o percurso entrava numa trilha. Um tropeção nos primeiros 10m ligou um alerta de cãibra; parei, alonguei, aumentei a cautela e abri passagem para três companheiro, entre eles meu “adversário”. Após a trilha selvagem, entramos numa trilha quase urbana, num numa viela cimentada entre casas muito simples. A criançada local fazia o seu “cheering” entre gritos de apoio e mãozinhas para bater.
Nesse momento dá um orgulho pessoal por contribuir com um exemplo positivo à esses pequenos, que fique para eles o estímulo de buscar no caminho do esforço a consecução das suas conquistas; toca descida. Ao fim da viela, demos numa extremidade da praia do Abraão e só restava chegar à outra ponta da praia, entre cadeiras de praia, rodas de altinha, mesas dos bares, uma foz de riacho, a vila, o cais, a turistada ora olhando com espanto, ora manifestando apoio com sorrisos e acenos. 
Chegada forte, pernas boas, sem dores nem cãibras numa prova difícil mas não tão dura quanto os treinos e uma certeza: temos no Espírito Santo cenários tão ou mais duros dos que encontramos nas melhores provas do Brasil!
Vamos conquistar essas montanhas, no ES tem montanha sim senhor!